Sonho com tantas coisas simples e diversas vezes já me refugiei da realidade nesses "lugares" criados pela vontade e pela imaginação. É lá que apenas o Bom e o Belo existem e a miséria, o desrespeito, a ignorância, o preconceito e a maldade deixam de ter vez.
Levo também pra esse mundo as músicas, porque acredito que elas são uma forma de ligação com O Mundo Superior, seja ele como quer que você o imagine. Ah, as músicas das quais falo são as que tocam a alma, as que já existiam antes que alguém as "percebesse" e as tocasse; você reconhece essas músicas? elas te falam ao espírito e ao coração? se sim, então somos iguais; se não, bem, o mundo é feito de diferenças!!

domingo, 19 de junho de 2011

A Música na História

           Madrugada de 31 de março de 1964, data do início dos eventos que no dia seguinte, 1º de abril, culminariam com um golpe de estado que, encerrando o governo de João Goulart (Jango), criou um regime militar que durou até 1985. Época bastante sombria da nossa história recente, que trouxe mudanças profundas no quadro político-partidário e econômico, instaurando e legitimando a perda dos direitos (AI) e a censura. 
          Estudantes presos e presos desaparecidos, políticos perseguidos, músicos exilados. Com os acontecimentos de 1964, a conscientização popular aumentou e começaram a surgir protestos de todas as áreas ligadas à cultura. Na música popular, os artistas sentiram necessidade de compor canções de cunho social e isso culminaria com os festivais. Usando as palavras da minha querida amiga Rosane “Acho que esse foi o período da nossa história onde mais se fez boa música no nosso país”. O Brasil então viu nascer nas composições de nossos já conhecidos poetas e de novos compositores as mais belas canções, que traziam como tema a liberdade, o amanhã, o sonho de ver o país novamente livre e democrático. Foi nos Festivais de Música Popular, criados em 1965, que o povo brasileiro, por meio das músicas, voltou a ter alguma voz.


          Em  1968 uma das canções mais cantadas e que se tornou a canção-símbolo contra a ditadura foi "Pra Não Dizer que Não Falei das Flores" de Geraldo Vandré, a musica foi proibida, os militares se ergueram contra ela e Vandré partiu para o exílio. O FMP mais famoso foi o de 1967, entre as músicas que concorreram e ganharam estavam: "Ponteio" de Edu Lobo, "Roda Viva" de Chico Buarque e "Alegria, Alegria" de Caetano Veloso. Outra música de Caetano, "É Proibido Proibir", não foi entendida nem aceita pelo público do Festival de 68, mas ela prenunciou o início da época em que, no Brasil, seria permitido proibir. Por meio de suas letras esses artistas mostravam a indignação por um Brasil subjugado a um regime autoritário.
          Um dos cantores mais perseguidos pela ditadura foi Chico Buarque, esse homem usou seu talento para contestar e fazer seu desabafo contra a situação do país. Tendo silenciado Geraldo Vandré, os militares o elegeram como o novo inimigo do regime. Enquanto duraram a censura e o regime militar, Chico foi o compositor e cantor mais vigiado e censurado. A sua obra sofreu censura em todas as áreas, tanto nas canções quanto no teatro. Exilado de 1969 a 1970, Chico Buarque sofreu com a perseguição mesmo após o retorno ao Brasil. Em 1970, recém chegado do exílio, ele enviou a música “Apesar de Você” para tentar a aprovação da censura, tinha certeza de que a música seria proibida, afinal a letra era bem direta:
"Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão, não.
A minha gente hoje anda
Falando de lado e olhando pro chão
..."

         Mesmo sendo tão clara, a canção foi aprovada, sendo gravada imediatamente. Já haviam sido vendidas milhares de cópias, quando um jornal comentou que o "VOCÊ" da música era o presidente Médici. Dá pra imaginar o que veio depois, o exército brasileiro invadiu a fábrica e confiscou todos os discos, porém esqueceram de destruir a matriz, graças a Deus. Em 1974, usando o pseudônimo de Julinho de Adelaide, para conseguir driblar a censura, Chico compôs "Acorda Amor", que não era óbvia como "Apesar de Você", mas também um retrato fiel do que ocorreu entre 1968 (logo após a decretação do AI-05) e 1976 quando "teoricamente" a tortura não era mais praticada pelos militares e verdadeiramente diversas pessoas eram arrancadas de suas casas e levadas para os DOPS e DOI-CODI´s espalhados pelo Brasil.
           É muito rica a produção musical brasileira nesse período, só pra citar alguns exemplos:
Cálice (Chico Buarque & Milton Nascimento) em http://www.magossi9.hpg.ig.com.br/calice.htm ;
Como Nossos Pais (Elis Regina / Belchior) em http://elis-regina.letras.terra.com.br/letras/45670 ;
Prá não dizer que não falei de flores (Geraldo Vandré) em http://geraldo-vandre.letras.terra.com.br/letras/46168/  e Alegria, Alegria (Caetano Veloso) em http://caetano-veloso.letras.terra.com.br/letras/43867/ .
        Existem dezenas de outras músicas que retratam essa fase, uma pena não poder citar todas, mas o objetivo desse post foi mostrar que apesar, ou talvez por causa, da tensão, da luta, de todo tipo de perdas pelos quais o povo brasileiro passou (e passa), a música sempre está presente nas nossas "batalhas", e especificamente nesse período da História os compositores foram prodigiosos e essas músicas certamente serão eternas.

Beijos e uma ótima semana!

7 comentários:

  1. Nadja, adorei a aula de história. Voce está afiada, hem?!!!
    Apesar de toda a repressão pela qual passou o nosso povo, naquela época, e talvez até por causa dela, nossos compositores nos presentearam com belas canções que retrataram toda a angústia vivida por essa geração. Observando atentamente cada canção, podemos mergulhar naquela época e sentir cada dor e cada esperança de dias melhores. Olhado agora de longe, podemos perceber o quanto foi rico esse período e necessário para o nosso crescimento sócio-político. A geraçao atual usufrui o que a anterior conquistou, portanto, devemos um Brasil melhor hoje, aos nossos pais e avós que lutaram com os argumentos que possuiam em sua época. Hoje temos um país democrático, onde o voto é a principal arma, porém ainda precisamos aprender a utilizá-la. E essa é uma dívida que temos com os nossos filhos, sobrinhos e netos, pra que no futuro eles também possam se orgulhar de nós e dizer, graças a geração dos meus pais, tios ou avós, não elegemos mais políticos corruptos,afinal eles não existem mais,temos um Brasil higienizado. Eu sei que hoje, ainda é utopia, mas depende de nós que se torne realidade. E diria mais, é nossa responsabilidade tornar realidade!!! Pois se hoje, eles ainda existem, é porque permitimos e ainda não fizemos a nossa parte na história!!!
    Beijos e até o próximo post.

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  2. Oiii Ana!!Saudades amiga!
    Acho que foi por causa da situação que eles conseguiram fazer composições tão lindas, era a forma de mostrar a revolta por tudo que estava acontecendo. E como você disse e diz a letra de outra música "Depende de nós, se esse mundo ainda tem jeito...". Ainda vai demorar tanto pra que a gente tenha consciência política, um exemplo disso são alguns dos parlamentares eleitos, sem comentários.....
    Beijossss!!!!

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  3. Nadja! Parabéns pelo excelente post! Relembrar esse período de luta e censura sempre é bom. Falar nas maravilhosas composições que foram feitas e que ainda hoje nos encantam foi uma grande ideia. É a história viva e ilustrada, cantada e ouvida por todos.
    Outros tempos, músicos conscientizados...Foi o que ficou de bom daquele período lamentável da nossa história.
    ADOREI!!
    Beijão, querida!

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  4. Rô!!!
    É sempre muito bom receber tua visita amiga e esses post foi feito, pra variar, com teu incentivo, lembra?
    Eu adoro falar sobre esse período, acho que tem fatos que a gente não pode esquecer pra evitar que se repitam e, claro, as músicas que recebemos de presente são simplesmente atemporais, geração após geração elas continuarão vivas e atuais.
    Beijossss!!!!

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  5. Aprendi mais uma com seu post, ñ fazia idéia dessa repercussão na história, isso prova que a música é o desabafo perfeito para quaisquer circunstâncias da nossa vida.

    * * *beijiskis* * *

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  6. É a música cumprindo um de seus papéis: o de retratar o momento, as emoções sentidas pelas pessoas. Essa época foi muito dura, imagino a dificuldade para se compor algo, já que tudo tinha que seguir uma certa linha, sob pena de ser censurado.
    E os compositores que tiravam a coragem das entranhas da alma tem mesmo que ser homenageados, pois nem dá para imaginar o quanto devem ter sofrido com tantas injustiças.
    Eu acho que a razão de terem sido compostas músicas tão boas naquela época é porque havia um idealismo, uma voz presa na garganta que urgia em ser posta para fora. Esse é o segredo da boa música: tem que haver um motivo sensível para o que se escreve.
    Veja só, atualmente há tanta porcaria por aí. Senão, vejamos: "vai descendo na boquinha da garrafa", "só as cachorras..." e assim vai. Qual a mensagem que essas músicas querem passar? Absolutamente nenhuma. São lançadas apenas com o intuito de vender, de fabricar um sucesso instantâneo, alienando um público que, infelizmente, está cada vez mais perdido e sem valor algum.
    É uma pena, pois uma música boa é tão rica e nos engrandece tanto!
    Beijinhos

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  7. Isso mesmo Léia, a música cabe em qualquer circunstancia, e nesse período da nossa História ela foi a voz do povo.

    É Lucy, a maioria das músicas tocadas hoje em dia é lixo! Não entendo como o povo brasileiro (uma boa parte dele) perdeu a noção do que é bom, e não é uma questão de gosto musical diferente, o problema é bem maior que esse. Esses grupos novos que surgem lotam os shows, vendem milhares de cópias e poluem os nossos ouvidos, já que as músicas são tocadas em cada esquina, não tem como não ouvir! Infelizmente.
    Mas ainda bem que continuamos tendo ótimos compositores, tanto os novos como os daquela época.
    Beijosss!!

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