Ele foi o mais talentoso e inteligente "letrista" do rock brasileiro, letrista porque assim ele se auto denominava quando era na verdade um poeta, suas canções falavam de amor, de perda, de solidão, de busca, de política e abandono social, Renato sabia como ninguém encontrar as palavras e referências perfeitas pra cada verso, cada trecho de música, e assim tantos anos depois do fim da Legião e de sua morte, as composições feitas totalmente ou em parceria com ele continuam falando a seus fãs da mesma forma e com a mesma força de antes.
O menino Renato era tímido, afetuoso, tranquilo e inteligente, assim também era o jovem Renato e essa inteligência se mostrou em suas letras fortes e politizadas, em suas angústias convertidas em poemas, nas questões sociais que sempre o deprimiam. Depressão: outro ponto marcante de Renato... O adulto Renato era cavalheiro, gentil, amigo e ainda introspectivo, suas amizades falam dele com respeito, carinho e emoção, pelo homem e pelo artista.
Com sua primeira banda, o Aborto Elétrico (1978-1982) Brasília, e alguns poucos pontos do país, tiveram um vislumbre daquele que viria a ser o maior e mais importante grupo de rock brasileiro. Na época do Aborto nem o próprio Renato fazia idéia de que ele conseguiria o que havia dito à família um dia: Que queria ser muito famoso e formar a melhor banda de rock do Brasil. Uma previsão mística... Renato também era místico. São dessa época músicas como "Ainda é Cedo", "Geração Coca-Cola", "Música Urbana", "Fátima"(gravada pela Capital Inicail) e "Que País é Este?". Depois de ter deixado a banda Renato intitulou-se de Trovador Solitário, foi um período de amadurecimento e crescimento musical, nesse período ele compôs "Faroeste Caboclo", "Eduardo e Mônica", "Dado Viciado", "Música Urbana 2", entre várias outras. Chegou então o momento de novamente formar uma banda, foi então que nasceu a Legião Urbana (ou como muitos preferem Religião Urbana).
Ano de 1982, nesse momento surgia no país de forma messiânica o grupo que iria contestar, denunciar e dizer o que não devia ser dito, era a voz da juventude, uma juventude amargurada, presa e silenciosa, uma juventude que ganhou um porta voz e o transformou em um messias. Alguns viram nele toda a genialidade do homem-artista, outros apenas enxergaram o orador que falava em suas letras a realidade do país, de uma ou outra forma Renato conseguiu tirar da mesmice toda uma geração, letras como "Será", "Geração Coca-Cola" e "Perfeição", se tornaram hinos, passaram a fazer parte do inconsciente coletivo do país, e hoje tantos anos depois de terem sido feitas elas continuam atuais. Um exemplo gritante dessa atualidade é a música "Que País é Este?" feita em 1978 mas que só foi gravada em 1987, porque, segundo o próprio Renato, havia a esperança de que ela se tornasse obsoleta, infelizmente não se tornou, muito pelo contrário.
A música era seu norte, fez músicas para além de seu tempo, ele não as limitou a um momento. Queria atingir todas as faixas etárias, queria fazer músicas que ultrapassassem o aqui e o agora, o que dizer de canções como "Tempo Perdido", "Há tempos", "Indios", "Acrilic On Canvas", "Metal Contra as Nuvens", "Angra dos Reis", "Será", "Quase sem Querer", "Mil Pedaços", são dezenas de músicas que falam a cada um e a todos. E não eram apenas as letras e composições que impressionavam, também sua voz. O jornalista José Emílio Rondeau que foi produtor da Legião durante alguns anos, se enamorou da voz de Renato por causa de uma fita amadora, segundo ele "Só um cego ou surdo não constataria de primeira que Renato era John Lennon, Bob Dylan, Elvis Presley, Paul McCartney, Bruce Springsteen, Brian Wilson e Joe Strummer, tudo junto, num país tão carente de equivalentes nacionais."
Esse homem comum e ao mesmo tempo extraordinário, escreveu e fez parte da História do Brasil, por mais que se fale, se diga ou se escreva, sempre vai haver algum detalhe que não foi falado, dito ou escrito. Esse cinéfilo que pretendia ficar na Legião até os 40 anos, tinha a ambição de daí até os 60 se dedicar ao cinema, já tinha até dois roteiros prontos, um que escreveu na adolescência, o mitológico Apolo e Daphne e o outro na fase adulta Faroeste Caboclo, baseado nos 159 versos de sua própria música, que conta a história de João de Santo Cristo, um santo e traficante, retrato do Brasil; dos 60 em diante seria escritor, mas ele não teve tempo, aos 36 anos ele se tornou um mito e deixou órfã aquela geração que cresceu, literal ou figurativamente, ouvindo suas "orações".
Lembro do 11 de outubro de 1996, durante todo o dia "Via Láctea" tocou nas rádios, o CD - A Tempestade - ou O Livro dos Dias, foi o mais melancólico e triste feito pela banda, foi trabalhado e gravado durante a fase final da doença do Renato, é uma das várias obras primas que ele, juntamente com a banda, legou ao público. Hoje ele estaria completando 52 anos, não consigo imaginá-lo com essa idade, como ele disse em "Os Bons Morrem Jovens" - É tão estranho / os bons morrem jovens / assim parece ser / quando me lembro de você / que acabou indo embora cedo demais....".
Se fosse só sentir saudade
Mas tem sempre algo mais
Seja como for
É uma dor que dói no peito
Mas tem sempre algo mais
Seja como for
É uma dor que dói no peito
Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta
De hospitais...
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta
De hospitais...
Ah Renato, sou tua fã absoluta e por tabela da Legião Urbana, conheço cada uma de tuas composições e como milhares de outros fãs hoje queria poder te dar os parabéns e dizer o quanto você foi e continua sendo importante e querido pra uma infinidade de legionários. Essa é a minha pequena homenagem.