Sonho com tantas coisas simples e diversas vezes já me refugiei da realidade nesses "lugares" criados pela vontade e pela imaginação. É lá que apenas o Bom e o Belo existem e a miséria, o desrespeito, a ignorância, o preconceito e a maldade deixam de ter vez.
Levo também pra esse mundo as músicas, porque acredito que elas são uma forma de ligação com O Mundo Superior, seja ele como quer que você o imagine. Ah, as músicas das quais falo são as que tocam a alma, as que já existiam antes que alguém as "percebesse" e as tocasse; você reconhece essas músicas? elas te falam ao espírito e ao coração? se sim, então somos iguais; se não, bem, o mundo é feito de diferenças!!

quarta-feira, 27 de março de 2013

Nascimento do Rock X Regime Militar

        Final dos anos de 1970; Cenário: Brasília; Contexto político: Regime Militar.
        Foi nesse meio, em plena repressão e censura, que teve início o rock brasileiro. Bandas como Plebe Rude, Capital Inicial e Aborto Elétrico (projeto que se transformaria na Legião Urbana) lançaram seus protestos por meio de letras que reinvidicavam direitos e demonstravam indignação. O movimento queria devolver a voz e o poder ao povo, e nesse período governado por Ernesto Geisel, isso era uma bomba incendiária. Não podia existir rock onde havia censura, ele precisava do ar puro da democracia!
       "Coincidentemente" moravam na capital federal, nesse período, Renato Russo, Eduardo Dado Villa-Lobos, André Mueller, Bernardo Mueller, André Pretorius, Alex Seabra, Felipe Lemos e seu irmão Flávio, Felipe Bi e Pedro Ribeiro, Fernando Dinho, Plilippe Seabra, Herbert Viana, entre outros, todos filhos de embaixadores, diplomatas, militares ou funcionários do Banco do Brasil.
       Todos eles de uma forma ou de outra haviam morado fora do país, trouxeram as cabeças voltadas para o que se fazia lá fora. Estavam isolados do resto do país, morando numa cidade que nada oferecia e alavancados pela bagagem que trouxeram do exterior, criaram assim uma cultura própria que mudaria o cenário musical e pensante da juventude brasileira.
       Esse grupo, que ficou conhecido como a Turma da Colina, foi influenciado por Sex Pistols, Focus, Nina Hagen, até criar seu estilo e daí nascer "Aborto Elétrico" (Renato no Baixo e Vocal, André Pretorius na Guitarra e Fê Lemos na Bateria), onde foram criadas várias das músicas que mais tarde comporiam o repertório da Legião e da Capital Inicial.
       Foram muitos os confrontos com militares e grupos de playboys, a violência fazia parte de suas rotinas, afinal aquela gente esquisita queria destruir o sistema com suas músicas subversivas e roupas estranhas. Devido a um desses encontros com a polícia Renato e Fê Lemos compuseram "Veraneio Vascaína" (incorporada ao repertório da Capital Inicial), que dizia: "...Cuidado pessoal, lá vem vindo a Veraneio...dentro dois ou tres tarados, assassinos armados, uniformizados".
       Foi também dessa época, 1978, a música "Que País é Esse?", quem a escuta hoje percebe o quanto é atual no que se refere aos contextos social e político brasileiro, uma música que o próprio Renato tinha esperança de que ficasse obsoleta, infelizmente o que não ocorreu até hoje! 
       O que dizer de "Perfeição", lançada no álbum O Descobrimento do Brasil de 1993? é mais uma dessas obras que parecem ter vindo de um profeta, nela a Legião descreve a nossa realidade, nossos olhos e ouvidos fechados diante de toda injustiça e impunidade reinantes. 

"Vamos celebrar
A estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja
De assassinos
Covardes, estupradores
E ladrões...
Vamos celebrar
A estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso estado que não é nação...
Celebrar a juventude sem escolas
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião..."

        Nesse período foi gerada uma cultura atemporal e permanente, as músicas criadas por essas bandas são cantadas e lembradas até hoje, não foi uma produção em massa que buscava alienar e deturpar a boa música, muito pelo contrário, graças a esses "subversivos" da Capital Inicial, da Plebe Rude, da Legião (em Brasília), da Blitz e Paralamas (no Rio), do Titãs e do Ultraje a Rigor (em São Paulo), ainda temos música de qualidade sendo ouvida (não estou descartando nossas outras riquezas musicais!), música questionadora que tem algo a dizer, que tem reclamação a fazer, que mostra indignação e revolta nas questões sociais, assim como sabe explorar os sentimentos e falar da beleza dos sonhos, do amor e da esperança.


        Essa semana assisti ao Concerto Sinfônico da Legião Urbana, que abriu o Rock in Rio de 2012. Fiquei feliz e emocionada ao ver tantos jovens cantando o repertório, a vista aérea mostrando os milhões de pessoas ali presentes comprova que a boa música é eterna, não é um modismo que cai nas redes sociais e rapidamente é esquecido para dar espaço a outro lixo comercial.

Capital Inicial - Primeiros Erros 

Paralamas do Sucesso - Alagados

Legião Urbana - Perfeição


        Dinho, Herbert, Bi, Dado, Marcelo, Renato e todos os outros citados anteriormente trouxeram sua contribuição para o enriquecimento de nossa música, eram a voz que falava pelos jovens num período onde ter voz era perigoso para a saúde, onde a melhor política era a de olhar e não ver.
        Hoje Renato estaria completando 53 anos, e durante sua estada nesse plano ele ajudou na criação e formação de um povo que encontrou em suas letras o que queria dizer e ainda não sabia. Todos els fizeram parte da História, de uma parte dela que nos orgulha.
        Amo música, todos sabem, e adoro o Renato, então essa foi minha forma de homenageá-lo em seu aniversário, relembrando o quão importante foram esse período e essas pessoas para nossa música.
        Léia, Lucy e Rô, obrigadinha pelos comentários no post passado, amo vocês amigas, tenham certeza de que vocês moram em meu coração.
        Beijos e uma ótima Páscoa a todos!!!
             
       




       

4 comentários:

  1. Já ví que não fez supermercado, em compensação o texto ficou belíssimo e uma homenagem à altura de nossos ídolos eternos!

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    1. Foi mais produtivo ficar em casa Sandra, rsrsrs. Que bom que gostasse!
      Beijos!!!

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  2. Produtivo mesmo, dona Nadja! Oi, minha linda! Saudades desse cantinho tão emocionante e de ti! Só agora pude vir te visitar e mais uma vez encontro um texto de qualidade e lindas e inesquecíveis músicas. Realmente, o período da ditadura foi um dos mais produtivos em termos de letras e músicas maravilhosas. A repressão potencializou os espíritos mais criativos e rebeldes da época, o que foi o único ponto positivo daquele período sombrio da nossa história.
    Mais um grande e delicioso post!
    Um beijo carinhoso, minha querida!!!

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  3. Ual Nadja lembrar essas figuras acalenta nossa alma nos faz ter orgulho de ter vivido essa libertação em comparação com os dias atuais que caiu no esquecimento essas revindicações, cobranças alguém que represente a voz do povo, infelizmente hoje seguimos acuados mediante tantos lixos musicais da modernidade que acaba favorecendo temas no qual essas bandas lutaram contra, pareçe que seus esforços foram esquecidos por uma grande demanda, mas ai já entra questão de cultura que vem sendo cada vez mais escasso.

    Ressalva ter a lembrança desses que nunca desistiram e nos motiva a jamais desistir e se deixar poluir. Apesar de estarem numa época sombria do militarismo.

    Enfim salve nossas músicas de qualidade que perdure por gerações e gerações!!

    Até a próxima amiga querida, super beijos!!

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